sábado, 23 de agosto de 2008

SEGUNDO CASAMENTO

Antonio Hercules Romualdo Florence
Dona Carolina Krug

" Aos quatro de Janeiro de mil oitto centos e cincoenta e quatro em casa de Camillo Chavier Bueno da Silveira com portaria do reverendissimo Vigario Geral que dispensou o impedimento culta disparitas com habilitação depois de proclamados e não havendo outro impedimento e receberão em matrimonio em minha presença e das testemunhas o alferes Raimundo Alves dos Santos Prado e Jorge Krug dando cada um o consentimento com palavras de presente Antonio Hercules Romualdo Florence viuvo por óbito de Dona Maria Angélica de Vasconcellos e Dona Carolina Krug filha legítima de João Henrique Krug e da Dona Isabel Krug sendo o Contrahido Catholico Romano e a Contrahida da religião Protestante e por isso se receberão na forma do breve do Pio 7° que consagra Apostólica Sedes Benignitas de 4 de Outubro de mil oito centos e vinte e dois, todos desta Parochia.

O Vigario João M. d' Almeida Barbosa
a) Hercules Florence
b) Carolina Krug

Como testemunhas
a) Jorge G. H. Krug
b) Raymundo Alvares dos Santos Prado Leme "

PRIMEIRO CASAMENTO

“Certifico que no dia quatro de Janeiro de mil oito centos e trinta , n' esta Sé, pelas sete horas e meia da manhan, sem impedimento algum, dispensadas todas as diligencias ordinarias, e o tempo, por Despacho do Illustrissimo Chantre Juiz de casamentos, Lourenço Justiniano Ferreira, em data de dous de Janeiro do corrente anno, o qual Despacho, p. me est, em minha presença, e das testemunhas abaixo assignadas, o Pay da Contrahente Francisco Alvares Machado, e o Alferes José Alvares Machado, com procuração de Joaquim Theobaldo Machado e Vasconcellos, depois de terem os contrahentes sido confessados, e prestado seus depoimentos, se receberam em matrimonio por marido e mulher, por palavras de presente, Antonio Hercules Romuald Florence, nascido e baptisado em Nice, filho legitimo de Arnaldo e Augustinha, com Dona Maria Angelica de Vasconcellos, natural e baptisada na Villa de Ytú, e filha de Francisco Alvares Machado, ora residentes, isto é, freguezes da Villa de S. Carlos. _ E na mesma ocasião pelo Despacho referido lhes dei as Bençans Nupciaes, na fórma costumada n' esta Igreja. Era ut supra. S. Paulo. O Cura , Manuel da Costa Almeida, Francico Alvares Machado e Vasconcellos, José Alvares Machado e Vasconcellos. _ Por ordem do Illm. e Revm. Sr. Vigario Geral dos Casamentos vai esta certidão remettida ao Illm. e Revm. Sr. Vigario da Villa de S. Carlos, onde os contrahentes são freguezes.
Sé, 4 de Janeiro de 1830. _ O Cura Manuel da Costa Almeida ".

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

ARNAUD FLORENCE

Fé de Oficio

Estado abreviado dos serviços do falecido Arnaud Florence, nascido em Toulouse em 29 de abril de 1749; falecido em Mônaco em 14 de outubro de 1807, deixando mulher e quatro filhos em tenra idade sem bens nenhuns.

1. De 1767 a 1775, sargento cirurgião no Regimento “Royal Comtois”, empregado na qualidade de segundo cirurgião no Hospital do grande Porto na Ilha de França e na de Cirurgião – chefe no transporte de guerra real a Seyne e na de Cirurgião no vaso de guerra Comte de Menon.

2. De 1792 ao ano IV cirurgião mor do 3º batalhão de voluntários do Departamento da Haute Garonne.

3. Do ano IV ao fim do ano IX cirurgião de 2ª classe, empregado no Hospital militar permanente de Nice, hospital esse suprimido nessa época.

4. Do ano VIII ao ano XIV professor de desenho na escola central do Departamento dos Alpes Marítimos e na da circunscrição (arrondissement) de Nice, tendo mesmo exercido este emprego gratuitamente durante mais de um ano no tempo da organização da Escola secundária.

5. No ano IX e X, comissário encarregado pelo prefeito do Departamento dos Alpes marítimos de percorrer esse departamento para colher e redigir notícias sobre Estatística.

6. No ano 1806 a 1807, perceptor (coletor) das contribuições diretas em Vintimille, distrito de São Remo, Departamento dos Alpes Marítimos.

Certificado conforme e verdadeiro pelos originais que nos foram apresentados.
Mônaco, 23 de julho de 1823.
Os cônsules da Cidade de Mônaco (com o selo) Saussa, J. Massa.

(Bourroul, Estevam Leão. Hércules Florence (1804-1879): ensaio histórico-literário. São Paulo, Tipografia Andrade e Mello, 1901).

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Hércules, Política e crise moral

Atualmente, a crise moral se alastra pelo mundo, aquecendo instintos e esfriando sentimentos. Porém, Hércules, em 1827, tanto se impressionou com a imoralidade que mais tarde escreveu: “não diria que seja geral em Cuiabá a dissolução, mas em nenhuma parte vi tão grande tendência para o desregramento”. Entre as causas dessa decadência moral, citou a cobiça pelo ouro, o calor do clima e a facilidade em se viver sem quase trabalhar.
Hércules denotava preocupação com o bem estar do ser humano e da vida em sociedade. Sua inclinação para o socialismo faz supor que conhecia as idéias de socialistas utópicos franceses. Conviveu com políticos do Partido Liberal e, segundo o historiador Aluisio de Almeida, pertencia à Sociedade dos Patriarcas Invisíveis que tinha como um dos objetivos opor-se às arbitrariedades do governo. Foi amigo do Regente Feijó e, segundo o historiador Mello Pupo, amigo íntimo de Antonio Manuel Teixeira, chefe da revolução liberal em Campinas. Não há dúvida que se arriscou pelos seus ideais, produzindo em sua tipografia o jornal dos revolucionários.
Apesar de suas convicções políticas, manteve a virtude e a integridade que caracterizavam seu caráter. E deixou para seus descendentes essa preciosa herança que determina a maneira íntima de ser de cada um e exerce a melhor proteção contra crise de valores sociais. Disso resulta um modo de agir que corresponde ao que ele escreveu em seu diário de viagem: “... o homem, em verdade, nasceu para Deus: seu coração só aguarda os bons ensinamentos, principalmente o bom exemplo”.
Texto publicado no Editorial do informativo da família Florence, "Olhar Florence", Ano 2 - nº 6 - 2007, autor Francisco Florence Neto.

terça-feira, 24 de junho de 2008

A INFÂNCIA EM MÔNACO

Em seu diário manuscrito, Hércules Florence não faz nenhuma menção aos seus estudos escolares. Hércules diz sempre ter sido autodidata, tendo feito seu aprendizado sozinho e através de leituras. Ele as conta em detalhes e cita todos os livros que alimentaram sua avidez por conhecimentos.
Muito jovem, sua grande admiração por Napoleão o influenciou muito fortemente. Durante sua primeira infância viveu a epopéia da Grande Armada e os ideais da Revolução. Hércules completou 11 anos por ocasião da batalha de Warteloo.
Louis XVIII restaurou a monarquia dos Bourbons.
Em Mônaco Honoré IV retomou a posse do trono dos Grimaldi.
É então nos livros que Hércules embarca para continentes desconhecidos, navegando por páginas que lia com o coração acelerado. A primeira leitura que ele menciona é Robinson Crusoé, que foi de fundamental importância em sua vida.
Órfão de glórias e conquistas, Hercules criança devora “As aventuras estranhas e surpreendentes de Robinson Crusoé”.
Ele se entusiasma: “Eu li Robinson e apaixonei-me por viagens e aventuras marítimas”. Esta louca tendência a “percorrer o mundo” de Robinson tomou conta dele.
Ele escreveu em seu caderno onde anotava suas idéias: “Partirei um dia próximo para alguma ilha deserta onde a natureza será a minha única mestra, aprenderei sua linguagem, a farei cantar, anunciarei sua beleza ao resto do universo”. Fica-se estupefato diante desta visão tão clara do futuro de sua existência. Ele perseguirá este destino de naturalista, dez anos mais tarde no Brasil, tornando-se o segundo desenhista da Expedição Langsdorff, descrevendo com seu pincel a fauna, a flora, as paisagens percorridas e as tribos de índios da Floresta Amazônica.
Hercules Florence evoca, aliás, com paixão, a descoberta de mundos longínquos que o cativaram em “A História filosófica e política dos estabelecimentos e do comércio dos Europeus nas duas Índias” de Abade Raynal, uma obra que ele qualifica de “brilhante”. Um livro erudito e polêmico, publicado às vésperas da Revolução, onde o filosofo ataca todos os tipos de opressão, os Reis e a Igreja, e é um dos primeiros a denunciar a escravatura.
Hercules completa seus conhecimentos de geografia num grande Atlas pertencente à sua família: “não havia lugar do globo onde eu não pretendesse ir um dia. O Mediterrâneo me parecia muito pequeno e eu só pensava percorrê-lo como se percorre um lago de seu país antes de abandona´-lo”.
Suas outras leituras foram cientificas. Ele cita a A enciclopédia de Diderot, o tratado das matemáticas de bezout, a Física experimental de nollet.
Hércules o sonhador era pragmático e tinha gosto pela ciência. Pois sem bagagem, a aventura não se improvisa ela se transforma em derrota. É um dos traços marcantes do caráter de Hércules Florence: os desejos se prendem à reflexão, o estudo semeia o entusiasmo. Ele escreve: “Tinha compreendido que para ser marinheiro deveria estudar matemática. Tinha poucos livros a meu alcance e comecei a estudar sem mestre”.
No calor de seus 14 anos, sonhava ser marinheiro, a melhor maneira de fugir e percorrer o mundo. Sua mãe, esperando que com o tempo ele se acalmaria, o colocou em um escritório de Engenharia. Hércules executava trabalhos de escrita e desenho: planos, mapas, perspectivas, copias de relatórios a serviço dos engenheiros encarregados da abertura de estradas e da reconstrução do Palácio. Seus sonhos de viagens adormeceram por um tempo.
Lançou-se então ao estudo das ciências exatas com toda a energia de seu despeito. Em seus instantes de liberdade, desenhava e preenchia seus cadernos de demonstrações e de sábios teoremas. O inventor genial que seria Hércules Florence despontava na época. Traçou plano para uma vasta rede de canais de navegação irrigando a França. Iniciou o estudo de uma nora (aparelho para tirar água de poços) com movimento perpétuo, uma máquina complexa onde a água circularia sob a força da gravidade. Seu projeto milimetrado e colorido está inserido em seu diário.
Um dia seu irmão Emmanuel, que assim como Hércules sonhava com oceanos e aventuras, embarcou para o Egito. O pachá Méhémet Ali, amigo da França, em guerra contra os Otomanos, havia atraído inúmeros generais e engenheiros franceses, para lhe construir uma frota e um exercito poderoso contra o inimigo. Emmanuel desapareceu no Egito, sem deixar vestígios. Nenhuma indicação sobre as circunstancias de sua possível morte aparece, nem no diário de Hércules, nem nos arquivos do Consulado de Alexandria estudados por mim.
Fortuné, o mais velho dos filhos Florence, se engajou no corpo de carabineiros. Em 1822 uma ordem do Príncipe Honoré V o nomeou sub tenente, premissa de uma brilhante carreira que o levaria ao posto de Capitão de Engenharia e Cônsul da cidade de Mônaco no fim de sua vida. Sua esposa lhe deu 4 filhos: Clotilde, Théodorine, Philibert e Adelaide.
Mas o ramo monegasco de Fortuné desapareceria em 1918 com seu filho Philibert Florence, pintor apreciado, mas que não deixou descendência. Uma ruela de Mônaco tem seu nome. Suas irmãs Clotilde e Adelaide morreram solteiras, muito idosas, com 92 e 85 anos. Quanto a Théodorine, casou-se com seu primo - irmão Francisco, um dos filhos de Hércules e foi com ele ao Brasil.
Uma parte dos Florence brasileiros é então, de uma certa maneira, duplamente Florence, por Fortuné e por Hércules. Mas não resta nenhum Florence no Principado, mesmo porque Célestine, a irmã caçula de Hércules e Fortuné morreu em Mônaco, solteira. Em compensação Hércules, o exilado, deixou numerosa descendência no Brasil.
Pode-se perceber que os 4 filhos de Arnaud Florence, o soldado do ano II, e de Augustine Vignalis, a jovem monegasca, se dividem em dois pares de caracteres muito diferentes: os sedentários que ficam em Mônaco: Fortuné e Célestine, e os aventureiros: Emmanuel que partiu para o Egito e Hércules que veio ao Brasil.
(Trecho de artigo escrito por William Luret na revista Annales Monegasques - 2006)

SEU PAI ARNAUD FLORENCE

Se as influências artísticas que formaram seu caráter procederam de sua linhagem materna e monegasca, Hércules Florence tem de seu pai, sem dúvida alguma, o anseio por viagens e conhecimentos que o levaria para distante de sua terra natal.
Arnaud Florence era filho de Roch Florence, mestre de cirurgia, figura emérita de Toulouse. A febre de aventuras atingiu muito cedo este filho fantasioso e temerário.
Sur un coup de tête, dans les turbulences de sa jeunesse (sobre um golpe de cabeça, nas turbulências da sua juventude) engajou-se no Regimento Real Comtois, designado para o serviço dos portos e colônias, promessa de grandes viagens pelos oceanos. Durante sete anos ele serviu em La Rochelle, Saint Martin de Ré et Rochefort, portos de embarque para o Mar das Índias e Isle de France (ilhas Mauricio), quando foi nomeado segundo sargento cirurgião a bordo de várias embarcações. Tendo o Royal Comtois sido designado para Lille, Arnaud Florence deixou o regimento em 1775.
De volta a Toulouse, aprendeu os rudimentos da medicina com seu pai.
Quando a revolução estourou, abraçou a causa republicana e em fevereiro de 1792 foi eleito cirurgião-mór no Estado Maior do 3º Batalhão de Voluntários de Haute Garonne. A tropa foi guerrear na Savóia e no outono chegou ao Rio Var, fronteira do Condado de Nice. O general Anselme ocupou a cidade sem disparar nenhum tiro e despachou o 3º batalhão para Mônaco, para proclamar a república.
Em Mônaco, requisitou-se, para os soldados, a maior parte do Palácio do Príncipe. A ala dos grandes apartamentos foi designada para ser Hospital militar e a capela transformada em armazém de víveres e depósito de armas. Na capela da Misericórdia instalou-se a “sociedade dos Amigos da Liberdade e da Igualdade”. Esta sociedade apressou-se em votar, logo nos primeiros dias de 1793, a decadência dos Grimaldi e a união de Mônaco à República, rebatizada Forte Hércules. Em Paris, Robespierre triunfava no Comitê de Saúde Pública, enquanto que os Sans culotte da sessão do Bonnet rouge prendiam o Príncipe Honoré III em sua residência de Matignon.
Quando na primavera de 1776, o exército da Itália levado pelo general Bonaparte retomou a ofensiva no Rio Pó, Arnaud Florence foi chamado a Nice e nomeado Oficial de Saúde de 2ª classe no Hospital nº 3 que era o Palácio do Governador. Ele instalou sua família numa ruela sombria e estreita, a Rue de la Réunion, 4ª sessão, assim rebatizada a fim de comemorar a união de Nice à República (atualmente Rue du Gesu).
Nasceu o terceiro filho deles, Fortuné. Os Florence mudaram-se para a Place de la Liberté (atualmente Place du Palais de Justice). Alguns meses mais tarde, no outono de 1799, uma terrível epidemia de peste dizimou a cidade. Augustine perdeu seu filho Jean Baptiste e seu irmão, o pintor Jean Baptiste Vignalis.
Terminada a campanha da Itália, os oficiais de saúde foram reformados e Arnaud encontrou-se sem recursos e os seus na miséria. Foi então que o prefeito Florens lhe confiou um empreendimento titânico, mas bem-vindo: registrar a situação dos Alpes Marítimos, nomeando-o para isso “Comissário encarregado da estatística”. Após 16 meses de trabalho, ele entregou uma enciclopédia detalhada do departamento (região dos Alpes Marítimos).
Seguiram-se dias difíceis e incertos. Arnaud só receberia parcos emolumentos como professor de desenho na Escola Central. Nasceu outro menino em 1804, chamado Hércules. Dois meses mais tarde, Napoleão Bonaparte era coroado Imperador.
Célestine, sua última filha nasceu no verão seguinte.
Em seguida, partiram para Vintimille (Ventimilha). Arnaud tinha sido nomeado fiscal de impostos, pois Napoleão havia reunido o distrito de San Remo ao departamento dos Alpes Marítimos. Arnaud foi rapidamente despedido e voltou a Mônaco onde morreu em 14 de outubro de 1807, na residência da família na rua do Hospital. Seu filho Hércules tinha três anos e Fortuné oito. Augustine, sua esposa, viveu mais cinqüenta anos e morreu com 89 anos.
(Trecho de artigo escrito por William Luret na revista Annales Monegasques - 2006)

SUA MÃE AUGUSTINE

Augustine Vignalis era a filha de Claude e Aimée Vignalis. Sua mãe era uma Gastaldi.
Augustine teve cinco irmãos. O mais velho, Jean Baptiste nasceu em 1762.
Augustine nasceu em Mônaco no dia 06 de janeiro de 1768. Casou-se em 2 de março de 1793 em Mônaco com Arnaud Florence, aos vinte e cinco anos de idade.
Os arquivos do cartório do ano de 1793 revelam um aumento na quantidade de casamentos entre moças monegascas e soldados e sans - culottes que chegaram ao Principado na primavera do Ano II da República. Arnaud Florence 44 anos, cirurgião - mor do 3ºbatalhão dos voluntários de Haute-Garonne, originário de Toulouse, escolheu a cidadã Agostina Vignalis.
De sua família materna de Mônaco Hércules recebeu a influência artística que impregnou profundamente sua juventude. Seu tio Jean-Baptiste o irmão mais velho de Augustine, pintor de grande futuro, recebeu o Prêmio de Roma em 1781, aos dezenove anos, assim como seu pai Claude Vignalis que havia recebido o mesmo prêmio cinqüenta anos antes. O Príncipe Honoré III, benfeitor das artes, o havia tomado sob sua proteção e ofereceu-se a custear seus estudos e fez vivas recomendações à Corte. Jean Baptiste viveu dez anos em Roma.
Arnaud pai de Hércules também havia freqüentado, em sua juventude, durante três anos a Academia Real de Toulouse, recebendo várias menções e um prêmio de composição em pintura.
No entanto, de acordo com o próprio Hércules, sua iniciação na arte pictórica foi solitária. Ele escreveu em seu diário: “atraído por tudo o que estava ao meu alcance para aprender, não podia deixar de me dedicar ao desenho. Eu o aprendi sem nenhum mestre, somente com os modelos que tinha diante de meus olhos”.
Augustine Vignalis e Arnaud Florence tiveram seis filhos.
A primeira filha Claudine-Herculine nasceu em Mônaco em fevereiro de 1794 e morreu com dois anos. Os outros cinco nasceram em Nice. Jean Baptiste, nasceu em 1796 e morreu com três anos durante a epidemia de peste de 1799. Fortuné nasceu em 1799, Emmanuel nasceu em 1802, Hércules nasceu em 1804 e Célestine nasceu em 1805 no fim da primavera.
(Trecho de artigo escrito por William Luret na revista Annales Monegasques - 2006) https://ihf19.org.br/docs/pt-br/publico/Annales%20Monegasques%20artigo%20completo.pdf


sábado, 17 de maio de 2008

ÍNDIO GUATÓ

Cheguei a perguntar a um guató, encontrado na companhia de três mulheres, em sua canoa, se todas elas lhe pertenciam. Respondeu-me que sim. Indaguei, então, se não queria dar-me uma. Cuidou ele, por sua vez, de saber se eu trouxera a minha comigo. Diante de minha resposta negativa, acrescentou-me que, se eu a tivesse trazido, poderíamos fazer uma troca.
(Viagem Fluvial, traduzido por Francisco Álvares Machado e Vasconcellos Florence).

LAMENTAÇÃO

No texto abaixo Hércules diz que por muito tempo lastimou estar vários anos no Brasil longe do Mediterrâneo e de Mônaco.

Por muito tempo lastimei haver contraído laços que me fixaram vinte e quatro anos longe desse mar; contradição de meu espírito, que me fazia sonhar com vastos oceanos a percorrer e praias desertas, ou habitadas por selvagens, a visitar, e que, mais tarde, tornado habitante do Brasil, me fazia ter saudades do Mediterrâneo, de seus portos próximos uns dos outros, de suas ilhas, de seus pequenos mares e, sobretudo, dos habitantes de suas praias. O oceano Atlântico só se me afigura hoje triste solidão, e os quadros de Raynal, esse livro deslumbrante que inflamava minha imaginação, mudaram o seu prestígio... Avista-se de Mônaco a Ilha da Córsega, mas somente de manhã e no fim do dia quando o tempo é sereno. Ficava satisfeito sempre que eu reconhecia de longe esta ilha montanhosa; sentia que respirava o mesmo ar que respirara Napoleão na sua infância; eu era, pois, o seu concidadão. Quando o dia se anunciava belo, o seu berço surgia do Mediterrâneo colorido das tintas da Aurora, e as altas montanhas da ilha pareciam gigantes postados na guarda do berço do Gigante da historia moderna. Hoje habito sob a mesma latitude onde ele morreu e sofro também os tormentos do exílio. Singular aproximação, que me faz por vezes refletir sobre a fortaleza de alma de que precisou Napoleão para sobreviver à maior glória que um homem podia adquirir. Então, eu me consolo um pouco de que eu, tão fraca criatura, não haja podido atingir à parte da glória que, durante vinte anos, se mostrara a meus olhos, em meu exílio... (traduzido por Estevam Leão Bourroul )

Fonte: Bourroul, Estevam Leão. Hércules Florence (1804-1879): ensaio histórico-literário. São Paulo, Tipografia Andrade e Mello, 1901.

terça-feira, 6 de maio de 2008

AS LEITURAS DE HÉRCULES

Daniel Defoe, escritor inglês e autor de:
As aventuras de Robinson Crusoé.

Etienne Bézout era matemático e autor de:
Curso de matemática e
Curso completo de matemática para o uso da marinha e da artilharia.

Jean Antoine Nollet, físico, foi professor de física na universidade de Paris, autor de: lições de física experimental.

Guillaume Thomas Raynal (Abade Raynal), escritor e filósofo, autor de:
História filosófica e política dos estabelecimentos e o comércio dos europeus nas duas índias (seis volumes).

François Marie Charles Fourier, filósofo e um dos membros do socialismo utópico.

terça-feira, 22 de abril de 2008

VIAGEM FLUVIAL

A Expedição Científica chefiada por Langsdorff estava inicialmente planejada para seguir por terra, a cavalo. No entanto, houve mudança de planos e, no seu diário de viagem, Hércules explica o motivo transcrevendo a carta que recebeu de Langsdorff.
Langsdorff mudando a trajetória da Expedição de terrestre para fluvial permitiu que Hércules conhecesse Álvares Machado e conseqüentemente sua filha Maria Angélica com quem se casaria cinco anos mais tarde.

Na época, Vila de São Carlos era o nome de Campinas.


Enquanto em São Carlos me entendia com um tropeiro, para o transporte de nossa bagagem a Cuiabá, recebi do Sr. Langsdorff carta em que me dizia:
"Já não vamos por terra para Cuiabá; para lá iremos por meio do rio, e embarcaremos em Porto Feliz. O Doutor Engler, de Itu, assegurou-me que os naturalistas ainda não exploraram esta rota, ao passo que vários deles, como os Srs. Martius e Spix, Burschell, Netterez, etc., já se valeram do caminho por terra. Venha a Porto Feliz, à casa do Sr. Francisco Álvares Machado e Vasconcellos, excelente pessoa, cujo conhecimento o Sr. Engler me favoreceu. Vou percorrer o sul da província e o Sr., enquanto isso, ajudado pelo Sr. Francisco Álvares, cuidará de aprestar as canoas e os víveres, assim como arrolará as tripulações".

Referência:
Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas: pelas Províncias brasileiras de São Paulo, Mato Grosso e Grão Pará (1825-1829). Tradução de Francisco Álvares Machado e Vasconcellos Florence

sábado, 19 de abril de 2008

AVANHANDAVA

Meu pensamento ocupou-se muitas vezes com o Avanhandava e o Itapura, outra cachoeira do Tietê. O martírio da vida social do século recalcou meu pensamento para o sertão - não é exagero dizê-lo. E num movimento de entusiasmo, exclamei:

Avanhandava! Ainda vejo e admiro
sobre teu anfiteatro de granito
um caudaloso rio transformado em toalha tecida
d’ alvos brilhares, trêmulo - cadentes!
Itapura! Ainda aos ouvidos soam-me
com eternos trovões, harpas eólicas,
que vagamente enlevam.
(Viagem Fluvial, traduzido por Francisco Álvares Machado e Vasconcellos Florence).

sábado, 12 de abril de 2008

RIO DE JANEIRO

Sobre a baia de Guanabara, que conheceu em 1824, escreveu:

A baía e seus arredores não ficam em plano inferior a Constantinopla, Nápoles e Lisboa. A cidade não lhes é superior, embora mais vasta, pois não se vêem nela palácios nem grandes edifícios; mas desde vinte anos que a conheço ela tem-se embelezado, e edificam-se todos os anos tantas casas que, no dizer de um francês esclarecido, o Sr. Charles Taunay, ela não tardará em sobrepujar a população dessas grandes cidades.
(traduzido por Estevam Leão Bourroul).

A respeito de sua volta ao Rio de Janeiro em 1829, ao término da Expedição Langsdorff, escreveu:

As belezas pitorescas esparsas no deserto tinham-me ensinado a sentir as belezas inúmeras do Rio de Janeiro, belezas que excedem Nápoles, Constantinopla e Lisboa e que são, além do mais, coroadas de uma vegetação espontânea que não tem essas cidades célebres, que só acharia sua igual em Panamá ou nas margens do Nilo e que pertence às primeiras idades do mundo. Rio de Janeiro foi feito para formar os pintores e os poetas. Por um comércio secreto entre a natureza e o gênio, os seus quadros fazem nascer a inspiração que se expande em uma atmosfera que, por sua vez, a acalenta sem cessar.
(traduzido por Estevam Leão Bourroul)

A CHEGADA EM PORTO FELIZ EM 1826

Cheguei a Porto Feliz; atravessei lentamente a sua longa rua, montanhosa e deserta, calçada de cascalho; o sol dardejava os seus raios a prumo sobre minha cabeça. Chego enfim à casa de Francisco Álvares: sai um homem para me receber: o seu rosto de cor clara, mas descorada; os seus olhos um pouco encovados e cercados de uma tinta violeta, tinham algo rebarbativo; mas seus cabelos pretos anelados sobre uma fronte pálida, onde se lia alguma coisa, temperavam a reserva que seu olhar inspirava: era o excelente Francisco Álvares. Mal soube quem eu era, soltou uma exclamação de alegria; dei entrada numa pequena sala; as suas palavras e as suas maneiras me encheram de simpatia.
Desde este primeiro dia, tratou-me como se eu fosse da família: livros franceses, instrumentos de física, a calma perfeita que se desfruta em uma pequena cidade, e, mais do que isso a sua privança, a sua palestra variada, viva, agradavelmente mordaz, abraçando tudo; sua casa e seu jardim deitando para uma encosta rápida em cuja base corre o Tietê; a vista de uma vasta planície, onde o rio serpeia e foge para o deserto; numerosa sociedade dos bons habitantes desta cidade, toda brasileira e liberal, todos os dias, na mesa, e a toda hora, tudo isto fez de minha estada em Porto Feliz, uma era de felicidade de que raramente gozei.
Tenho saudades deste tempo; saudades de Francisco Álvares a me recitar Camões, Francisco Manuel, Bocage e outros muitos.

(Trecho do manuscrito de Hércules escrito em 1848 descrevendo sua chegada a Porto Feliz, traduzido por Estevam Leão Bourroul)

sábado, 5 de abril de 2008

PORQUE LANGSDORFF PERDEU A MEMÓRIA

Introdução
O barão von Langsdorff, quando cônsul da Rússia no Brasil, organizou e chefiou uma expedição fluvial ao interior do país, partindo, em junho de 1826, de Porto Feliz.
A expedição, financiada pelo governo russo e sem ter um prazo exato para terminar, estava também planejada para alcançar países vizinhos. No entanto, a doença mental que acometeu Langsdorff, e da qual não se recuperaria durante o resto de sua vida, foi responsável pela interrupção da expedição e pelo esquecimento e abandono do material coletado e dos manuscritos que permaneceram desaparecidos durante um século.Os expedicionários, depois de atingirem Cuiabá onde permaneceram mais de ano, chegaram à Vila de Diamantino, onde a malária se refletia nas pálidas faces de seus moradores. Em seguida, no dia nove de março de 1828, seguiram mais ao norte, até o porto do rio Preto onde permaneceram vinte e dois dias. Eles sabiam que corriam risco de adoecer durante estadia prolongada naquele local insalubre. O ambiente era propício para desencadear doença febril que, no caso deles, seria hoje diagnosticada como malária que, em vinte e dois dias, teve período suficiente para sua incubação seguida dos principais sinais e sintomas que a caracterizam. Langsdorff estava entre aqueles atingidos por ela.

Malária
O parasita responsável pela malária (plasmodium sp) foi descoberto em 1881 quando se comprovou que ele é inoculado no ser humano através da picada de determinado gênero de mosquito (Anophles). Na época da expedição não havia, portanto, entendimento exato sobre a origem do quadro clínico da doença. Uma doença febril, como a malária, tem duas possibilidades de ocasionar perturbações psíquicas: ou o processo infeccioso exerce ação indireta sobre o cérebro, ou o atinge diretamente.Na literatura médica brasileira há várias referências sobre casos de doença mental em pacientes contaminados pela malária. Todavia, o uso de medicamentos modernos tornou rara a manifestação desse tipo de psicose.Além de ser capaz de produzir o delirium febril, o parasita da malária pode atingir o cérebro e seus vasos sanguíneos, provocando inflamação. Essa inflamação cerebral determina a presença de distúrbios psíquicos que, na fase aguda, são evidenciados pela confusão mental. Tal condição pode evoluir com lesões definitivas, resultando num quadro psicótico permanente. Além da infecção febril, como fator desencadeante da perturbação mental há uma predisposição individual para que a enfermidade se instale.

Amnésia
Após ter sido infectado pela malária em março de 1828, Langsdorff passou a apresentar sintomas mentais que acompanhavam os acessos febris indicando a presença de alteração da consciência. Essa manifestação conhecida como delirium corresponde a um estado de confusão mental. Nesse estado, Langsdorff permaneceu durante horas, ou dias seguidos e ao se recuperar, posteriormente, pouco se recordava do que lhe havia acontecido e do que sucedera ao seu redor. Padecia, na ocasião, de uma amnésia lacunar, isto é, amnésia que fica restrita aos eventos relacionados com o período de confusão mental e que se denomina pós - confusional. No início, após cada acesso febril, a remissão do "delirium" era, certamente, completa. No entanto, a freqüência com que ocorriam as crises, fez com que os sintomas psíquicos persistissem, mesmo durante os intervalos em que a febre cedia. Essa condição revelou a gravidade do estado mental de Langsdorff que começava, assim, a perder a razão. O agravamento do seu estado de saúde foi observado a partir da segunda quinzena de maio de 1828. Hércules Florence, anotou em seu diário que Langsdorff, na ocasião, exibia perda da memória para acontecimentos recentes além do completo transtorno das idéias.A doença mental, portanto, estava instalada, trazendo, como uma de suas conseqüências, a amnésia de fixação. Isso significa que, a partir daquele momento, Langsdorff havia perdido a capacidade para reter as impressões sobre os fatos que viesse a presenciar.Seu filho Georg, anos mais tarde, observou que o pai, imediatamente após ler o jornal, não conservava lembrança do conteúdo inicial da leitura; isso comprova que um dos sinais de sua doença era a amnésia de fixação.
No navio que o trazia de volta para o Rio de Janeiro, no início de 1829, Langsdorff apresentou uma aparente melhora de seu estado mental e se recordou, detalhadamente, de muitos eventos de seu passado. Naquela ocasião, no entanto, demonstrou ser portador de uma amnésia restrita a acontecimentos significativos, pois não se recordava de nenhum fato relacionado com o período compreendido entre a saída da expedição do Rio de Janeiro em 03 de setembro de 1825 e seu término em Belém.Esse tipo de amnésia, que tinha as características de um processo seletivo, se sobrepôs ao quadro psicótico. Representava um mecanismo psicológico de defesa de Langsdorff contra experiências que se lhe mostraram insuportáveis pelo grau de sofrimento e de ansiedade que foram capazes de produzir. Era uma maneira dele se sentir, mentalmente, aliviado ao se esquecer daquela “penosíssima, atribulada e infeliz peregrinação” (HF).

Conclusão
Depois de sua chegada ao Rio de Janeiro, em março de 1829, o cônsul se encontrou "privado de toda sua capacidade mental... inabilitado para qualquer coisa ou conversar sobre qualquer assunto".
Langsdorff retornou à Europa em maio de 1830 e, sem obter recuperação de sua saúde mental, deixou a vida científica para conviver com seus familiares.
Durante as manhãs, ao se sentar à mesa de seu escritório se empenhava para vencer as dificuldades advindas da doença. Quando mantinha eventuais diálogos com estudiosos, por vezes, deixava transparecer algum sinal de como fora nos anos de lucidez.
Enfim, seu quadro mórbido evoluiu para um enfraquecimento psíquico irreversível causando profunda modificação na dinâmica de sua personalidade e se refletindo na dificuldade para raciocinar, elaborar ou compreender os fatos.
Faleceu aos setenta e oito anos de idade, depois de conviver, cerca de vinte e quatro anos, com a enfermidade.

(Este texto foi elaborado a partir das apresentações feitas durante os III e IV Simpósios Internacionais sobre o acervo da Expedição Langsdorff por Francisco A. Florence Neto).

quarta-feira, 26 de março de 2008

SOBRE ZOOFONIA ESCREVEU


"Mineralogia é estudo da natureza passiva.
Zoologia é estudo da natureza ativa.
Zoofonia é estudo da natureza falante".

"Minha teimosia expõe-me à indignação de muitas pessoas, mas não deixo de comunicar minhas idéias; se elas forem indignas de serem levadas em consideração, um eterno esquecimento as aguarda; assim o desgosto que poderiam causar só seria passageiro."

(A Zoophonia de Hercule Florence por Jacques Vielliard)

domingo, 23 de março de 2008

OS FILHOS DE HÉRCULES


Primeiro casamento

No dia 04 de janeiro de 1830, na Igreja da Sé em São Paulo, Hércules se casou com Maria Angélica Vasconcellos natural de Itu, filha de Francisco Alvares Machado e Vasconcellos.

Filhos do primeiro casamento

1 - Amador Bueno Machado Florence nasceu em 18 de janeiro de 1831.
2 - Celestina Florence nasceu 18 de novembro de 1832.
3 - Adelaide nasceu em 19 de março de 1834 e faleceu com nove dias de vida.
4 - Francisco nasceu em 27 de março de 1835 e faleceu em 27 de março de 1836.
5 - Francisco nasceu em 25 de novembro de 1836 e faleceu no mesmo dia.
6 - Francisco Álvares Machado Florence nasceu em Campinas em 22 de Dezembro de 1837 e faleceu em Espírito santo do Pinhal em 10 de outubro de 1904. Casou-se em Mônaco, em fevereiro de 1864, com sua prima Theodorine, filha de Fortuné.
7 - Cândida Machado Florence nasceu em 05 de abril de 1839 e faleceu em 1901.
8 - Antônio Hércules Florence nasceu em 27 de janeiro de 1841 e faleceu em 04 de setembro de 1916.
9 - Arnaldo nasceu em 16 de fevereiro de 1843 e faleceu em 29 de janeiro de 1845 após um ano de doença e cruéis sofrimentos.
10 - Angélica Florence nasceu em 16 de setembro de 1844 e se casou com Delfino de Ulhôa Cintra.
11 - Arnaldo Machado Florence nasceu em 14 de abril de 1846 e faleceu na adolescência na França.
12 - Paulo Machado Florence nasceu em 31 de dezembro de 1847 e faleceu na adolescência na Europa.
13 - Ataliba nasceu em 11 de junho de 1849 e faleceu três meses depois.

Segundo casamento

No dia 04 de janeiro de 1854 Hércules se casou com Carolina Krug que nasceu na cidade de Cassel, na Alemanha, em 21 de março de 1828.

Filhos do segundo casamento:

1 - Ataliba Florence formou-se em medicina em Heidelberg na Alemanha se especializando em oftalmologia. Casou-se com Olívia Bueno de Moraes ex - aluna do Colégio Florence. Depois de residir em São Paulo voltou para a Alemanha onde foi cônsul do Brasil em Dresden.
2 - Jorge Florence formou-se em farmácia em Heidelberg na Alemanha.
3 - Henrique Florence se formou em Engenharia na Alemanha. Casou-se com sua prima Evangelina Florence, filha de Antonio o oitavo filho de Hércules. Foi engenheiro responsável pela metragem das ruas de Campinas. E mapeou em Campinas a rota da febre amarela. Em 1888 teve participação na criação do edifício do Instituto Agronômico de Campinas.
4 - Augusta Florence se casou com o músico Emílio Giorgetti. Segundo referência tocava muito bem piano. Faleceu em Florença.
5 - Guilherme Florence nasceu em 19 de Junho de 1864. Tinha o apelido de Willy. Estudou na Escola de Minas de Glausthal e depois se transferiu para a Academia de Berlim. Formou-se em Engenharia de Minas e Metalurgia em 1889. Deve-se a Guilherme o aproveitamento econômico das jazidas de apatita de Ipanema, Sorocaba - SP.
6 - Paulo Florence era gêmeo de Guilherme. Estudou música, composição, regência e instrumentação na Alemanha e Itália. Faleceu aos oitenta e cinco anos de idade.
7 - Isabel Florence nasceu em 22 de outubro de 1867, foi professora de alemão e francês. Era muito apegada à sua mãe e não se casou.

Todos os filhos de Hércules nasceram em Campinas.

(Dados colhidos de publicação da autoria de Francisco Álvares Machado e Vasconcellos Florence com o título " Amador Bueno, o Aclamado, e os descendentes de Hércules Florence" e do livro "A Educação feminina durante o século XIX" de Arilda Ines Miranda Ribeiro )

sábado, 22 de março de 2008

A FAMÍLIA NA EUROPA

Arnaud Florence nasceu em Toulouse na França em 29/04/1749 e faleceu em Mônaco em 14/10/1807.

Marie Augustine Brigitte Vignalis nasceu em 06/01/1768 em Mônaco onde faleceu em 12/06/1857.

Arnaud se casou em Mônaco com Marie Augustine em 02/03/1793 e tiveram seis filhos:

1- Claudine - Herculine nasceu em Mônaco em fevereiro de 1794 e morreu aos dois anos de idade.
2- Jean - Baptiste nasceu em Nice em 1796 e faleceu aos três anos de idade durante a epidemia de peste em 1799.
3- Antoine Fortuné nasceu em Nice em 1799 e faleceu em Mônaco em 1865.
4- Emmanuel nasceu em Nice em 1802 e ainda jovem faleceu no Egito.
5- Antoine Hercule Romuald nasceu em Nice em 1804 e faleceu em Campinas - SP em 1879.
6- Célestine nasceu em Nice em 1805 e faleceu solteira.

(dados colhidos no artigo de William Luret - Annales Monegasques - 2006)

QUELQUES MOTS


Quelques mots d’histoire sur Hercule Florence

Par Francisco A. Florence Neto,
arrière-arrière-arrière petit-fils d’ Hercule Florence
et d’ Antoine Fortuné Florence


(traduit par Fernando de Almeida, 31/10/2005)

Introduction

Antoine Hercule Romuald Florence est né en 1804 à Nice. Orphelin de père avant ses quatre ans, il habita à Monaco durant quinze ans avec sa mère et ses frères.
Deux importants évènements changèrent la trajectoire de sa vie: l’engagement dans la marine royale française et la participation à l’Expédition Langsdorff.
Il s’engagea dans la marine à dix-neuf ans comme apprenti matelot. Et, en avril 1824, dans l’équipage du navire français “Marie Thérèze”, il arriva à Rio de Janeiro et ensuite decida d’y rester.
Em 1826, pendant les préparatifs de l’Expédition Scientifique dirigée par le Baron Von Langsdorff, il hébergea à Porto Feliz chez le docteur et politicien Alvares Machado. C’est lá qu’il connut Maria Angélica avec qui il se maria em 1830, fixant ainsi résidence à Campinas, dans l’état de Sao Paulo.

Hercule fut, principalement, artiste, aventurier, scientifique, et inventeur.

L’artiste

Son père fut professeur de dessin à Nice. Son grand-père maternel étudia la peinture à Rome. Un de ses oncles maternels gagna le premier prix de peinture à l’Académie Française. Les autres membres de la famille du côté maternel avaient aussi une prédilection pour la peinture.
Hercule avait par conséquent hérité d’une prédisposition génétique pour l’art pictural en plus de recevoir l’influence de l’ambiance familiale. C’est ainsi que tôt dans sa vie, il manifesta ce penchant naturel pour le dessin qu’il apprit sans l’aide d’un maître.
Au Brésil, en septembre 1825, il fut engagé comme second dessinateur de l’Expédition Langsdorff et fit des dessins et aquarelles d’indiens, esclaves, plantes, animaux, rivières, cascades d’eau, villes, villages et autres endroits qu’il visita durant le voyage.
Quand il s’intéressait à la formation des nuages, le ciel de Campinas inspirait de belles aquarelles. Et il réalisa sur ce sujet une étude qu’il appella ‘‘Atlas pittoresque des ciels ’’ ou ‘‘ Traité des ciels, à l’usage des jeune paysagistes’’. Son objectif était de reproduire exactement les couleurs et les différents aspects du ciel car il pensait qu’il était possible à travers la peinture de transmettre tous les effets de lumières tels qu’ils se manifestent dans la nature.
En 1832, il devellopa quelques études qu’il nommera ‘‘Tableaux Transparents de jour’’.Cela consistait à réaliser des trous dans des espaces choisis pour représenter les lumières et les reflets sur la toile. L’effet était observé quand on regardait le tableau dans une pièce sombre en utilisant l’incidence de la lumière soit d’une bougie, soit du soleil à travers la toile.
Il peignait aussi avec la vision du scientifique et ceci peut être notée, par exemple, dans l’aquarelle qu’il fit des Apiacas, dans des villages qu’il visita en avril 1828.
Hercule fut professeur de dessin à l’école Florence, école destinée à l’éducation féminine et fondée à Campinas en 1863 par sa seconde épouse, Carolina krug, originaire d’Allemagne.
L’art lui a inspiré quelques recherches comme : l’expérience sur l’impression de tableaux à l’huile ou estampes coloriées ; l’emploi de l’huile de ricin dans la peinture à l’huile qu’il nommera cellographie, aquarrélographie, peinture solaire, peinture cisparente et stéréopeinture qui serait un processus de peinture à l’huile pour reproduire les effets de lumière comme observées dans la nature.
Au delà de l’artiste confirmé du crayon et du pinceau, Hercule fut aussi un artiste de la plume. Et comme écrivain et poête, son jounal de voyage étonne par la correction et la clareté de ses descriptions.

L’aventurier

Cette phase de sa vie, représentée par les voyages qu’il fit, soit par voie terrestre, maritime ou fluviale, a commencé dès l’adolescence lorsque il lisait des romans comme par exemple “les aventures de Robinson Crusoé” de l’écrivain anglais Daniel Defoe.
La lecture de Robinson a réveillé en lui cet esprit d’aventurier et la volonté de voyager et de connaître le monde.
A seize ans, dans un navire affrété par um riche commerçant de Nice, il embarqua em direction d’Anvers où, sans emploi, il décida de retourner à Monaco. A dix-neuf ans, il entra dans la Marine Royale Française comme apprenti. Em février 1824, dans l’équipage du bateau “Marie Thérèze”, il partit pour um voyage de circumnavigation.Après quarente cinq jours, navigant sur l’Atlantique, il arriva à Rio de Janeiro où il trouva du travail dans um magasin de tissu et décida ainsi d’y rester.
Il avait vingt ans et considérait que les vrais biens de la vie se résumaient dans la simplicité, le travail et la tranquilité de l’imagination. Il avait une soif de savoir et désirait connaître le monde, s’instruir et progresser dans l’étude de la science.
A 21 ans, il fut engagé par le baron Von Langsdorff pour participer d’une expédition scientifique traversant l’intérieur du Brésil. Et, durant trois ans et demi, par terre, mer et grandes rivières, il connut diverses villes.
Cet époque d’aventurier s’arrèta avant ses 26 ans au moment où il se marrie et s’installe à Campinas.

Le scientifique

A seize ans, durant ses études de matématique et physique, il fit des projets de canaux fluviaux de navigation et rêvait de machines hidrauliques à mouvement perpétuel. A 17 ans, il imagina une pompe d’eau qu’il appela “Noria Hidrostatique”.
Il avait une bonne connaissance de chimie qui fut très utile pour la conception, l’élaboration, la recherche et l’execution de la photographie, entre les années 1832 à 1839.
Son premier ouvrage d’étude et de recherche, celui qui révéla son penchant pour la science, fut la “Zoophonie” qu’il publia em 1831 avec le titre de: “Recherches sur la voix des animaux ou essai d’un nuveau sujet d’études, offert aux amis de la nature”.
C’était un artiste avec une vision de scientifique et un scientifique avec l’intuition d’un artiste.
Dans son manuscrit, il décrivit les études et les recherches qu’il fit sur la découverte de la photographie.
Il écrivit aussi sur d’autres sujets, comme: la noria hydro-pneumatique, les études du ciel pour l’usage des jeunes paysagistes, les moyens d’imiter parfaitement leclair de lune et l’éclat des étoiles dans les tableaux transparents, la compression du gaz hydrogène appliquée à la direction des aérostats et une méthode de fabrication de chapeaux de pailles.
En 1841, il publia une brochure intitulée “Essai sur l’impression des billets de banque pour um processus totalement inimitable, précédé de quelques observations sur la gravure de ces mêmes billets, et les manières de remarquer ceux qui sont faux”.
Le premier août 1853, il publia une brochure en polygraphie composée de 16 pages et intitulée “Découverte de la Polygraphie”.

L’inventeur

La phase de l’invention commença début 1830, quand il habitait à Campinas.
Pour imprimer son étude sur la Zoophonie, il commença ses recherches sur un système plus simple et accessible de l’impression qu’il appelle Polygraphie.
Une des propriétés de ce système était de permettre l’impression de toutes les couleurs simultanément. L’objectif d’Hercule était aussi la reproduction de ses études et dessins. Les années passèrent et Hercule fit une utilisation pratique de la Polygraphie, la perfectionnant constamment arrivant à un stade qui ne nécéssitait plus l’utilisation d’une presse pour imprimer. Il désirait obtenir la meilleure impression et celle-ci d’une manière beaucoup plus simple.
Et, se concentrant sur cette nouvelle activité, il conçut la photographie ou l’impression par la lumière solaire en 1832. Sa première expérience photographique se déroula le 15 janvier 1833 quand il improvisa une caméra obscure et obtint, après quatre heures d’exposition,
l’image de ce qui pouvait être observer d’une fenêtre de sa demeure à Campinas.
Il utilisa ce processus pour obtenir des copies, par contact, de diplomes maçonniques et d’étiquettes de pharmacie, car son intention était d’utiliser la lumière solaire comme méthode d’impression.
Il abandonna ses recherches après qu’il sut , en 1839, que Daguerre avait, en France, découvert le mode de fixer l’image sur plaque de cuivre.
A l’époque, il y avait beaucoup de chercheurs européens occupés à la découverte de la photographie et, tôt ou tard, l’annonce de cette invention serait annocée.
Cependant, au contraire de ce qui arrivait en Europe, son invention au Brésil, à Campinas, se devait vraiment à sa génialité, surtout, comme certains auteurs observaient, quand le contexte social, économique et culturel dans lequel il vivait ne lui offrait pas, de manière satisfaisante, les conditions idéales pour son travail.
Ses études et ses recherches par rapport aux inventions consistaient aussi dans: la Noria hydrostatique haute pression destinée à l’irrigation, le papier inimitable, l’emploi des types-sillabes quand il assembla chaque consonne avec une voyelle pour simplifier le travail de la composition typographique, le dictionnaire synoptique qui était toujours ouvert à la page du mot recherché et la pulvographie que était l’impression par la poudre.

Prévisions et pionnier

Quand il avait à peine 21 ans, on remarquait déjà sa grande capacité d’observation et de déduction. A l’époque, pendant quelques jours dans la ville de Cubatao, il remarqua que le climat dans cette région était toujours malsain car les montagnes aux alentours ne permettaient pas une bonne circulation de l’air. Et, en accord avec ses prévisions, Cubatao, plusieurs années après, a été considérée comme une des villes les plus poluées du monde, à cause de la fumée produite par ses usines.
Il fut aussi un des pionniers de la recherche au Brésil, en publiant son étude sur la Zoophonie, la nouvelle science qu’il découvrit et qui s’appelera Bioacoustique au vingtième siècle. Ce fut le premier à rendre évident que le signal sonore de communication animale est spécifique. Il a prévu que les forêts seraient détruites par le feu et par l’homme provoquant en conséquence l’extinction et la disparition d’espèces animales.Ceci expliquerait pourquoi les descriptions des animaux s’accompagnaient aussi du type de som qu’ils produisaient. Une des analyses prouvées aujourd’hui de ce qu’il observa est le fait que, en forêts tropicales denses qui ne permettent pas la visualisation des oiseaux, ses espèces soient identifiées à peine par le type de chant qu’ils émettent. Hercule est considéré le ”Père de la bioacoustique” par le professeur et ornithologue Jacques Vielliard.
Il savait que l’impression aurait la facilité de nos jours quand il écrit:”ce sera si facile d’imprimer, comme écrire avec une plume, encre et papier”. Et avec l’utilisation pratique de la polygraphie, il introduisait l’impression graphique à l’intérieur de l’état de Sao Paulo.
Il fut un des précurseurs mondiaux de la photographie et le pionnier en Amérique selon Boris Kossoy. Il fut pionnier quant au terme photographie.Il fut le précurseur dans l’usage de l’ammonium comme aide dans la fixation de l’image et pionnier dans l’utilisation du papier aux essais photographiques.En 1833, à 29 ans, il écrivit qu’il serait possible de prendre une photo d’une personne, et à partir d’une image négative, obtenir la positive. En juillet de la même année, il parlait d’une future possibilité de fixer sur papier les couleurs des objets photographiés.
Il fut considéré un pionnier dans l’étude des nuages par le météorologiste Rubens Junqueira Villella.
Il installa la première typographie à Campinas où fut imprimé, en 1842, le premier jounal de la province dans l’état de Sao Paulo, appelé “O Paulista”.
Il fut le premier à faire un rapport complet sur les indiens Apiacas.C’est lui qui organisa le matériel utilisé dans l’expedition Langdorff. C’est encore lui qui sera responsable de la divulgation des faits de l’expédition, notamment par la publication en 1875 de son journal de voyage, traduit par le Vicomte de Taunay qui le considérait Patriarche de l’Iconographie Pauliste.
Dans son journal de voyage, il fit des descriptions détaillées des palmiers qu’il trouvait magnifiques. Il écrivit qu’ils représentaient un petit temple réunissant la colonne, le chapiteau et la voûte. Et,en 1852, il idéalisa un septième ordre de l’architecture utilisant le palmier comme modèle, lui donnant le nom d’ Ordre Brésilien. Aujoud’hui, un projet de ce type serait considéré une aplication de la bionique dans l’architecture.
Il eut aussi un rôle important dans l’ethnographie et l’iconographie du pays, montrant le paysage, la vie économique, la mentalité, les usages et coutumes de la population.
Pour l’historien Komissarov qui le considérait le “Léonard de Vinci” du Brésil, ses aquarelles, au delà de l’intérêt scientifique, sont l’évidence d’un art et talent, hélas pas encore reconnus à ce jour. Et le zoologue Paulo Vanzolini signalera la fine qualité artistique de ses oeuvres.
Enfin, selon l’écrivain Mario Carelli, des studieux contemporains et spécialistes reconnaissent qu’Hercule fut le peintre, le topographe, l’ethnographe et le naturaliste plus digne et fidèle du Brésil du début du siécle 19.

Conclusion

Le rêve d’adolescent d’Hercule était de voyager le monde, mais, dans l’équipage d’un navire de circumnavigation, débarquait à Rio de Janeiro où il décidait d’y rester. Et plus tard, participait de l’Expédition Langdorff.
C’est ainsi qu’il continuait à vivre, loin de sa terre natale, fixant résidence à Campinas où, après deux mariages et plusieurs enfants, décéda à 75 ans. Il n’a pas connu toutes les régions du monde comme il le voulait, mais laissa à ses descendants un riche héritage génétique. Car son talent révéla la sensibilité et l’intuition de l’artiste , le courage et la bravoure de l’aventurier, le savoir et la perspicacité du scientifique et enfin la créativité et l’ingéniosité de l’inventeur.

sexta-feira, 21 de março de 2008

LES PAYSAGES DU CIEL


Résumé
Par José Geraldo Motta Florence
De L' Article “Les paysages du ciel par Hercule Florence”
auteur: Rubens Junqueira Villela (professeur de l’institut d’Astronomie, Géophysique et Sciences Atmosphériques de l’université USP).
In revue Scientific American Brasil, AN 1, Nº 7, Décembre/2002 Pages 60-65

La famille Florence conserve des documents originaux du patriarche, ainsi que des ouvrages inachevés et inédits. Parmi ces travaux, on trouve les aquarelles et textes qu’Hercule Florence intitula “Atlas pittoresque des ciels”ou “traité des ciels, à l’usage des jeunes paysagistes”. J’ai examiné ce matériel à la demande de Leila E. Florence, qui désirait entendre l’opinion d’un spécialiste en météorologie avant de le publier. Et c’est avec un croissant intérêt et une admiration pour l’auteur que j’ai examiné l’originalité des aquarelles et des textes qui les accompagnent.
Durant l’Expedition Langdorff de 1825-29, le jeune Florence montra ses dons de documentaliste de grands talent et sensibilité. Atentif à tous les détails du paysage, le ciel a été lui aussi présenté avec véracité. Les aspects peints et commentés par l’auteur se prêtent parfaitement à une analyse et interprétation du professionel de la météorologie. Le météorologiste peut même fournir des explications techniques ou scientifiques pour les phénomènes physiques dont l’auteur disait ne pas connaître les motifs. Dans l’étude “27 juillet 1832”, Florence remarquait qu’il ne connaissait pas la raison de l’horitontalité des nuages en sa partie inférieure. Il est vrai que les bases des nuages cumulus, si bien représentées, se montrent toutes droites et horizontales. Ceci se doit à la constance du niveau de condensation, qui dépent à peine de deux propriétés de masse d’air, la température de l’air et le point de rosée, distribuées uniformément en une couche d’air bien mélangée par les vents et les courants thermiques verticaux..
Dans d’autres études, Florence prouve qu’il était un bon observateur quand il distingua les nuages cumuliformes et stratiformes, les protubérences qui caractérisent la convection intense à l’intérieur de nuages cumulus, le bref cycle de durée des nuages cumulus moins développés, et les colonnes de nuages cumulus qui au Brésil souvent se transforme en cumulonimbus qui sont les nuages des orages. Il identifia aussi les modèles de cumulus associés aux fortes tempêtes, quand ils deviennent instables (appelés lignes de grains), alors qu’aujourd’hui on utilise le radar afin de les détecter.
Un des paysages celestes plus spectaculaires et qui montre son acuité de l’observation et talent de peintre fut “la pyramide inversée”, observée le 17 septembre 1832. Pour le météorologiste, il s’agit d’une bande de haut-cumulus, probablement associée à un “jet stream. C’est justement à cet époque de l’année que le phénomène est le plus intense et fréquent dans le ciel de Sao Paulo.
Pour apprécier les vrais mérites des paysages célestes de Florence, il convient préciser qu’à cet époque, il n’y avait pas de classification scientifique pleinement acceptée. Les premières classifications, proposées par Lamarck en France et Luke Howward en Angleterre, datent de 1803 et 1805. Mais c’est seulement en 1891 que fut finalement adoptée une classification internationale des nuages. Et c’est à peine en 1932, que fut élaboré le premier atlas international des nuages, commandé à la Météorologie de France, par l’Organisation Météorologiste Mondiale. Pour tout ceci, Hercule Florence peut être considéré un pionnier et précurseur des études des nuages, ainsi comme il le fut dans le génie humain comme la photographie, la polygraphie et la zoophonie.
Les tableaux, les notes, et les descriptions du paysage céleste d’Hercule Florence enrichirent ma culture et formation professionelle de météorologie. Habitué à regarder le ciel, je perçoit et j’essaie de sentir ce que ses yeux voyaient, par rapport aux couleurs, formes, phénomènes optiques et beauté. La contemplation du coucher de soleil que je considère un moment magique de l’incomparable paysage brésilien contient désormais un nouveau charme et enchantement.

UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

Introdução
Antoine Hercule Romuald Florence nasceu em 1804, em Nice.
Órfão de pai, antes dos quatro anos de idade, residiu em Mônaco, durante quinze anos, com sua mãe e irmãos. Dois importantes acontecimentos mudaram a trajetória de sua vida: o ingresso na Marinha Real Francesa e a participação na Expedição Langsdorff.
Ingressou na Marinha Real Francesa aos dezenove anos de idade, como aprendiz de marinheiro. E, em abril de 1824, como tripulante do navio francês “Marie Thérèze”, chegou ao Rio de Janeiro onde resolveu permanecer. Em 1826, durante os preparativos para a Expedição Científica, chefiada pelo Barão Von Langsdorff, esteve hospedado em Porto Feliz na casa do médico e político Álvares Machado e conheceu sua filha, Maria Angélica, com quem se casou em 1830, fixando residência em Campinas, no Estado de São Paulo.

Hércules foi, principalmente, artista, aventureiro, cientista e inventor.

O Artista
Seu pai foi professor de desenho em Nice. Seu avô materno estudou pintura em Roma. Um de seus tios maternos ganhou o primeiro prêmio de pintura na Academia da França. Outros membros da família de sua mãe também tinham predileção pela pintura. Hércules, portanto, herdou a predisposição genética para a arte pictórica além de receber influência do ambiente doméstico. Assim, desde cedo manifestou sua inclinação natural para o desenho que aprendeu sem mestre. No Brasil, em setembro de 1825, foi contratado para a função de segundo desenhista da Expedição Langsdorff e fez desenhos e aquarelas de índios, escravos, plantas, animais, rios, cachoeiras, cidades e lugarejos que visitou, durante a viagem. Quando se interessou pela formação das nuvens, os céus de Campinas lhe inspiraram belas aquarelas. E elaborou, sob esse tema, um estudo que denominou “Atlas pittoresque des ciels” ou “Traité des ciels, à la usage des jeunes paysagistes”.
Desejava reproduzir exatamente as cores e os diversos aspectos do céu, pois acreditava que era possível, através da pintura, transmitir todos os efeitos da luz como eles se manifestam na natureza. Em 1832 desenvolveu alguns estudos que denominou "Tableaux Transparents de jour" que consistia em produzir pequenos furos em determinados espaços que representavam as luzes e os reflexos na tela. O efeito era conseguido quando se observava o quadro em um aposento escuro e com a luz de vela, ou do sol, incidindo atrás da pintura. Pintava também sob a visão de cientista e isso pode ser conferido, por exemplo, na aquarela que fez dos Apiacás, cujas aldeias visitou em abril de 1828. Hércules foi professor de desenho no Colégio Florence, destinado à educação feminina, fundado em Campinas, em 1863, pela sua segunda esposa, Carolina Krug, natural da Alemanha. A arte lhe inspirou algumas pesquisas como: ensaio sobre a impressão dos quadros a óleo ou estampas coloridas, emploi de l’huile de ricin dans la peinture à l’huille e o que denominou de: cellographie, aquarrélographie, pintura solar, pintura cisparente e stereopintura que seria um processo de pintura a óleo para produzir os efeitos de luz como ocorrem na natureza. Além de artista do lápis e do pincel comprovou, também, ter sido artista da pena. E, como escritor e poeta, seu diário de viagem se destaca pela correção e nitidez de suas descrições.

O Aventureiro
Esta fase de sua vida, representada pelas viagens que fez, por via terrestre, marítima e fluvial, iniciou na adolescência quando foi influenciado por algumas leituras como “As aventuras de Robinson Crusoé”, do escritor inglês Daniel Defoe.
A leitura de Robinson lhe despertou o espírito de aventureiro e desejou viajar e conhecer o mundo. Aos dezesseis anos, em navio fretado por rico comerciante de Nice, embarcou para Antuérpia e, sem conseguir emprego, logo retornou para Mônaco. Aos dezenove anos foi aceito na Marinha Real Francesa como aprendiz de marinheiro.
Em fevereiro de 1824, como tripulante do navio “Marie Thérèze” partiu para uma viagem de circunavegação. Após quarenta e cinco dias, navegando pelo Atlântico, desembarcou no Rio de Janeiro onde se empregou em loja de tecidos e resolveu permanecer. Tinha vinte anos de idade e considerava que os verdadeiros bens da vida consistiam na simplicidade, no trabalho e na tranqüilidade da imaginação. Tinha avidez pelo saber, desejava conhecer o mundo, se instruir e progredir no estudo da ciência.
Aos vinte e um anos de idade foi contratado pelo Barão von Langsdorff para participar de uma Expedição científica ao interior do Brasil e, durante três anos e seis meses, viajou por terra, mar e grandes rios, conhecendo diversas cidades.
Sua fase de aventureiro foi interrompida antes dos vinte e seis anos quando se casou e se instalou em Campinas.

O Cientista
Aos dezesseis anos de idade, quando se dedicou ao estudo de matemática e física, fez projetos sobre vastos canais de navegação e sonhava com máquinas hidráulicas e movimento perpétuo. Aos dezessete anos idealizou uma bomba para puxar água que denominou de Nória hidrostática. Tinha bom conhecimento sobre química que lhe foi muito útil para a concepção, elaboração, pesquisa e execução da fotografia, entre os anos de 1832 e 1839. Seu primeiro trabalho de estudo e pesquisa e que revelou seu pensamento científico foi sobre a Zoophonie que publicou em 1831 com o título de: "Recherches sur la voix des animaux ou essai d’un nouveau sujet d’études, offert aux amis de la nature”.Era artista com observação de cientista e cientista com intuição de artista. Em seu manuscrito descreveu os estudos e as pesquisas que fez sobre a descoberta da fotografia. Escreveu também sobre outros assuntos, como: nória hidro – pneumática, estudos dos céus para o uso de jovens paisagistas, meios de imitar perfeitamente o luar e o brilho das estrelas nos quadros transparentes, a compressão do hidrogênio para ser usado na pilotagem dos aeróstatos, e um sistema para a fabricação de chapéus de palha.
Em 1841 publicou um folheto intitulado “Ensaio sobre a impressão das notas do Banco por um processo totalmente inimitável, precedido por algumas observações sobre a gravura das mesmas notas, e o modo de se conhecer as que são falsas”.
Em 01 de agosto de 1853 publicou um folheto poligrafado composto de 16 páginas sob o titulo “Descoberta da Polygraphie”.

O Inventor
A fase da invenção teve início em 1830, quando estava residindo em Campinas.Para imprimir seu estudo sobre a Zoophonie iniciou as pesquisas relacionadas com um sistema mais simples e acessível de impressão que denominou Polygraphie. Uma das propriedades desse sistema era permitir a impressão de todas as cores simultaneamente. O objetivo de Hércules era, também, a reprodução de seus escritos e desenhos. Com o passar dos anos, fez uso prático da Polygraphie mantida em constante aperfeiçoamento até que em sua fase mais adiantada não havia necessidade da prensa para imprimir. Desejava obter a melhor impressão, da maneira mais simples possível. E, se dedicando a essa nova atividade, concebeu a fotografia, ou impressão pela luz solar, em 1832.
Sua primeira experiência fotográfica se deu em 15 de janeiro de 1833 quando improvisou uma câmera escura e obteve, depois de quatro horas de exposição, a imagem do que podia ser observado através de uma das janelas de sua casa em Campinas.
Usou o processo fotográfico para obter cópias por contato de diplomas maçônicos e de rótulos de farmácia, pois sua intenção era usar a luz solar como método de impressão.
Abandonou suas pesquisas depois que soube, em 1839, que Daguerre havia, na França, descoberto o modo de fixar a imagem em chapa de cobre. Dificilmente a invenção da fotografia não seria anunciada naquela época, pois vários pesquisadores europeus estavam envolvidos com sua descoberta. Todavia, ao contrário do que sucedeu na Europa, sua invenção no Brasil, mais precisamente em Campinas, se deveu quase que tão somente à genialidade de Hércules pois, segundo alguns autores, o meio social, econômico e cultural em que ele vivia não lhe oferecia, de maneira satisfatória, as condições apropriadas para seu trabalho. Seus estudos e pesquisas relacionados com as invenções também incluíram: Nória Hidrostática, que seria uma bomba hidráulica de alta pressão destinada à irrigação, papel inimitável, emprego dos tipos – sílabas, quando emendou cada consoante com uma vogal para simplificar o trabalho da composição tipográfica, dicionário sinóptico que sempre é aberto na página onde está a palavra que se procura e pulvografia que é impressão por meio do pó.

Previsões e pioneirismo
Quando tinha apenas vinte e um anos já denotava sua grande capacidade de observação e dedução. Esteve com essa idade, durante alguns dias, em Cubatão e constatou que o clima naquela área nunca seria saudável, pois as montanhas ao seu redor não permitiam uma boa circulação do ar. E, de acordo com sua previsão, Cubatão, muitos anos mais tarde, foi considerada uma das cidades mais poluídas do mundo, com a produção de fumaça de suas fábricas.
Foi um dos pioneiros em trabalho de pesquisa no Brasil, ao publicar seu estudo sobre a Zoophonie, a nova ciência que havia descoberto e que no século vinte passou a ser conhecida como Bioacústica.
Foi o primeiro a tornar evidente que o sinal sonoro de comunicação animal é especifico. Previu que florestas seriam destruídas pelo fogo e pelo próprio homem e, como resultado, animais seriam extintos ou dizimados. Essa seria uma das razões para que a descrição das características dos animais incluísse, também, o tipo de som vocal que produzem. Uma das comprovações atuais do que observou é o fato de que em florestas tropicais densas, que não permitem a visualização de pássaros, suas espécies sejam identificadas apenas pelo tipo de canto que emitem.
É considerado “O Pai da Bioacustica” pelo professor e ornitólogo Jacques Vielliard.
Sabia que a impressão teria a facilidade dos dias atuais, ao escrever: “deve ser tão fácil imprimir, como escrever com pena, tinta e papel”. E com o uso prático da Polygraphie, introduziu a impressão gráfica no interior do Estado de São Paulo.
Foi um dos precursores mundiais da fotografia e o pioneiro da América, segundo Boris Kossoy.
Foi pioneiro no registro do termo photographie.
Foi precursor no uso da amônia para auxiliar a fixação da imagem.
Foi pioneiro no uso do papel em ensaios fotográficos.
Em 1833, aos vinte e nove anos, escreveu que seria possível retratar uma pessoa e, a partir da imagem negativa, obter a positiva. Em julho desse mesmo ano, citou que seria encontrado um meio de fixar no papel as cores dos objetos fotografados.
Foi considerado um pioneiro pesquisador das nuvens pelo meteorologista Rubens Junqueira Villella.
Instalou a primeira tipografia em Campinas onde foi impresso, em 1842, o primeiro jornal do interior do Estado de São Paulo, denominado “O Paulista”.
Foi o primeiro a fazer um relato detalhado a respeito dos índios Apiacás. Foi quem primeiramente ordenou e organizou o material da Expedição Langsdorff.
Foi o responsável pela divulgação pioneira a respeito dos feitos da Expedição, com a publicação em 1875 de seu diário de viagem, traduzido pelo Visconde de Taunay que o considerava Patriarca da Iconografia Paulista.
Em seu diário de viagem fez detalhadas descrições das palmeiras que julgava belíssimas. Escreveu que elas representavam um pequeno templo onde se via a coluna, o capitel e a abóbada. E em 1852 idealizou uma sexta ordem de arquitetura usando a palmeira como modelo, lhe dando o nome de Ordem Brasileira. Hoje, um projeto desse tipo, seria considerado uma aplicação da biônica na arquitetura.
Teve importante papel na etnografia e na iconografia do país, retratando a paisagem, os rios, a vida econômica, a mentalidade, os usos e costumes da população.
Para o historiador Komissarov que o considera o “Leonardo da Vinci” do Brasil, suas aquarelas, além do significado científico, se destacam também pela arte pessoal que, até o momento, não foi reconhecida.
E o zoólogo Paulo Vanzolini menciona a fina qualidade artística de suas obras.
Enfim, segundo o escritor Mário Carelli, estudiosos contemporâneos reconhecem que Hércules foi o pintor, topógrafo, etnográfico, e naturalista mais fidedigno do Brasil do início do século XIX.

Conclusão
O sonho do jovem Hércules era viajar pelo mundo e, como tripulante de um navio de circunavegação, desembarcou no Rio de Janeiro onde resolveu permanecer. Em seguida, participou da Expedição Langsdorff. Foi assim que passou a viver distante de sua terra natal, fixando residência em Campinas onde, depois de dois casamentos e muitos filhos, veio a falecer aos 75 anos de idade. Não conheceu todas as regiões da Terra, como pretendia, mas deixou aos seus descendentes, além de sua história de vida registrada em autobiografia, uma rica herança genética. Pois seu talento revelava a sensibilidade e a intuição do artista, a coragem e a ousadia do aventureiro, a sabedoria e a perspicácia do cientista e a criatividade e o engenho do inventor.
(Autor: Francisco Florence)

PRECURSOR DA FOTOGRAFIA MODERNA

Hércules Florence, quando chegou ao Rio de Janeiro, logo após a Expedição Langsdorff, passou a elaborar seu trabalho de pesquisa que denominou Zoofonia, pois descrevia o som produzido pelos diversos animais que conhecera durante a viagem. Pretendia tornar a Zoofonia um novo objeto de estudo da natureza e, para tal, seria imprescindível sua divulgação através de publicação impressa. Todavia, ao se deparar com a escassez de tipografias no país, se dedicou às artes de impressão, a fim de desenvolver um novo processo que tornasse mais fácil seu objetivo. Já residia em Campinas quando inventou a poligrafia, similar ao que seria mais tarde conhecida como mimeografia. E, graças ao apoio financeiro de seu sogro, Álvares Machado, se tornou proprietário da primeira tipografia do interior paulista. A preocupação de Florence com a descoberta de novas maneiras de imprimir perdurando por vários anos contribuiu para que inventasse a pulvografia em 1860. Foi, também, envolvido por tais pensamentos que concebeu a fotografia, em 15 de agosto de 1832. Na ocasião, se encontrava na varanda de sua casa, em Campinas, e lhe veio à mente a possibilidade de imprimir aproveitando a luz do sol. Brotou-lhe a idéia de fixar imagens obtidas através da câmera escura empregando uma substância que mudasse de cor pela ação da luz. Procurou pelo boticário Correia de Mello que lhe sugeriu o nitrato de prata e lhe ajudou a encontrar o termo photographie para tal invenção. Sua primeira experiência fotográfica se deu em 15 de janeiro de 1833, quando improvisou uma câmera escura usando uma pequena caixa coberta com sua paleta de pintor e colocando uma lente em seu orifício. Introduziu na câmera escura um pedaço de papel embebido em fraca solução de nitrato de prata e obteve, depois de quatro horas de exposição, a imagem do que era observado através da janela da sala de sua casa em Campinas. Havia conseguido, no entanto, uma imagem em negativo sobre o papel, pois o que deveria ser claro se tornava escuro e o que deveria ser escuro se tornava claro. Procurou, mais tarde, superar tal desafio, obtendo a impressão positiva da imagem. No entanto, como o papel sensibilizado continuava escurecendo, sob a exposição da luz, tentava evitar tal reação o lavando com água. Só mais tarde seria de seu conhecimento que o hidróxido de amônio, agindo como redutor do nitrato de prata, poderia impedir o escurecimento daquilo que fosse impresso. Em outra experiência, ao embeber uma folha de papel com nitrato de prata, a tornando sensível à luz, deduziu que, ao escrever em placa de vidro escurecido com fuligem, poderia fazer com que os raios solares atravessassem os claros marcados pelas letras e imprimissem uma cópia do que escrevera. Havia, finalmente, descoberto um novo método de impressão, como pretendia. E, usando o processo fotográfico, fez cópias obtidas por contato, sob a ação da luz solar, de diploma maçônico e etiquetas de farmácia em papel que havia tornado fotossensível. Prosseguiu com suas experiências até 1839 quando, em Itu, ao lado de amigos na frente da casa de Karl Engler, recebeu a notícia de que Daguerre havia, na França, descoberto o modo de fixar a imagem sobre chapa de metal. Ficou emocionalmente abalado e não mais encontrou motivo para se dedicar às suas pesquisas, pois entendeu que o processo fotográfico havia sido descoberto, antes que pudesse anunciar ao mundo sua invenção. No entanto, ao que parece, desconhecia, na ocasião, que a daguerreotipia, além de não permitir cópias, utilizava, para a captação das imagens dos objetos, uma máquina muito pesada e que não poderia ser transportada, facilmente. Enfim, conforme a tese de Boris Kossoy, ficou comprovado, historicamente, que, Hércules Florence, mesmo sem patentear sua invenção, fez experiências fotográficas em Campinas a partir de 1833, descobriu a fotografia, em seu processo moderno, antes de qualquer inventor mundialmente conhecido, foi pioneiro no registro do termo fotografia (photographie) e empregou o papel dois anos antes de Talbot.
Em resumo Hércules Florence, segundo Boris Kossoy:
• Foi um dos precursores mundiais da fotografia e pioneiro da América.
• Foi pioneiro no registro do termo photographie.
• Foi precursor no uso do hidróxido de amônio para auxiliar a fixação da imagem.
• Utilizou papel nos ensaios fotográficos antes de Talbot que historicamente é considerado o primeiro.
• Realizou com sucesso o processo fotográfico em 1833, em Campinas - SP.

MAIO DE 1828

Ici s'est manifesté l'etat desastreux où est tombé M. De Langsdorff; c'est à dire, la perte de la memoire et un dérangement des idées, par suite de l'excès des fièvres intermittentes. Cet état, dont il ne s'est plus rétabli pendant tou le temps que j'ai continué d'être avec lui, nous a forcé à nous rendre au Pará, et à retourner à Rio de Janeiro, terminant ainsi un voyage dont le plan était si vaste avant ce malheur, que nous devions remonter l'Amazone, le Rio-Negro, passer à l'Orénoque par le canal naturel de Cassaquari (manuscrito).

Tradução:
Manifestou-se aqui o estado desatroso em que caiu o senhor De Langsdorff; isto é, a perda de memória e uma perturbação das idéias, em conseqüência do excesso das febres intermitentes. Esse estado, do qual ele não mais se restabeleceu durante todo o tempo que continuei a estar com ele, nos forçou a seguir para o Pará, e a regressar ao Rio de Janeiro, terminando, assim, uma viagem cujo plano era tão vasto antes dessa desgraça, que deviamos subir o Amazonas, o rio Negro, passar ao Orenoco pelo canal natural de Cassaquari.

ZOOFONIA

Hércules Florence foi também um pesquisador e quem primeiramente ordenou o material da segunda etapa da expedição Langsdorff. Uma de suas iniciativas na área da pesquisa foi a tentativa de anotar em pauta musical os sons produzidos pelos animais do Brasil. Quando se encontrava no Rio de Janeiro, em 1829, logo após voltar da viagem fluvial, a lembrança do som emitido por inúmeros animais selvagens que ouvira, lhe sugeriu a idéia de inventar novos sinais musicais que permitissem reproduzí-los. Desenvolveu um método próprio para o registro desses sons e escreveu um estudo a respeito do assunto que publicou em 1831, sob o título:
" Pesquisas sobre a voz dos animais ou ensaio de um novo objeto de estudos, oferecido aos amigos da natureza ". É possível que seu memento tenha sido o primeiro trabalho de pesquisa escrito e impresso no Brasil, revelando seu pioneirismo e a visão de quem estava muito além do homem comum de seu tempo. Ele deixou também o manuscrito
" Memória sobre a possibilidade de descrever os sons e as articulações da voz dos animais " que enviou para a Rússia e pertence ao acervo da expedição Langsdorff.
Hércules, que era autodidata e cuja curiosidade estava relacionada com todos os aspectos da natureza, transcreveu os sons emitidos pelos animais percebendo que se tratava de sinais específicos de comunicação e denominou seu estudo de zoofonia. Durante sua viagem com Langsdorff ao interior do Brasil, teve oportunidade de verificar a variabilidade de sons produzidos pelos animais, segundo as espécies. À medida que se deslocava de uma região para outra se surpreendia com os gritos de animais que lhe eram desconhecidos enquanto que outros, já familiares, ou desapareciam, ou se faziam ouvir com alguma modificação na emissão sonora. Quando a expedição subiu o manso curso do rio Paraguai ouviu, vindo dos bosques, o canto gutural dos bugios reunidos nas árvores. Um determinado grito deles, rouco e repetido com força, anunciava a presença do jacaré e seus urros, como se fossem extraordinários miados, avisavam a aproximação da onça. O anhuma - póca, nas margens alagadas do rio Paraguai, era como o bater do sino nos campos. O socó - boi, de manhã e à noite nos lagos e brejos, lembrava o mugido das vacas. A saracura, em monólogos na solidão era como se conversasse sozinha em alta voz. O aracuã gritava como uma galinha assustada enquanto sua fêmea, e companheira inseparável, repetia, alternadamente, as mesmas notas de seu canto. Quando Hércules, certa manhã, atravessou um florido campo, pôde ouvir o alegre cantar da seriema, enquanto que as horas ardentes do dia eram marcadas pelo zunir das cigarras e o entardecer vinha com o piado triste e plangente da jaó. Ao navegar os rios entre as regiões do Diamantino e Pará, Hércules notou que os sons emitidos pelos animais mudavam conforme se diversificava o aspecto da natureza. Ouviu, naquele território, o pequeno pássaro que chamavam de tropeiro porque seu assobio se parecia com o de um condutor de mulas. Durante a noite se sentia incomodado pelo coaxar dos sapos que se assemelhava ao som de um tambor batido com força e ritmo. Em seu estudo Hércules destacou que, embora se procurasse saber tudo a respeito dos animais, através de desenhos e descrições, não havia muita preocupação em caracterizar o tipo de som que emitiam. Apesar disso, os horrores das trevas eram representados pelo canto de aves noturnas; o terror da solidão dos desertos, pelos gritos das feras; uma agradável paisagem, pelo gorjeio dos pássaros e o alvorecer era retratado pelo canto do galo e o poente pelo chiar das cigarras ou pelo mugido das vacas. Assim, observava que havia uma harmonia entre o som produzido pelos animais e as localidades e os horários em que podia ser ouvido. Onde a natureza parecia triste, só se ouviria sons tristes. Nos desertos áridos da Arábia o viajante nunca teria o som agradável da grande quantidade de animais do Brasil e num rochedo sem vegetação do oceano, os gritos das aves combinariam com o ruído produzido por ondas e ventos. Ao descrever o canto da araponga, Hércules transcreveu uma fábula que os caipiras contavam. Certa vez, a onça e a araponga fizeram uma aposta para saber qual das duas se assustava com o maior grito que uma delas fosse capaz de emitir. A onça foi que iniciou, e usou de toda força possível para produzir seu tremendo urro mas a araponga nem se abalou. Em seguida, a araponga insistindo em seu canto tremido e suave como se fosse a lima no ferro, um ruído a princípio fraco, sonoro e agradável, fez a onça cochilar. Ao perceber que a onça havia adormecido, a araponga feriu o ar com a nota agudíssima de seu canto que se assemelha ao malho caindo pesadamente sobre a bigorna. A onça, acordando assustada, deu um grande salto e, é claro, perdeu a aposta. No final de seu memento Hércules previu a destruição das florestas pelo machado e pelo fogo e que os animais que nelas viviam seriam extintos ou se tornariam raros e esquivos. Lembrou que estaria aí a importância da zoofonia, capaz de conservar a exata representação do modo pelo qual esses animais expressavam suas sensações ou modulavam seus cantos. A zoofonia, finalmente, após quase século e meio, se tornou uma ciência e passou a ser conhecida como bioacústica.

quinta-feira, 20 de março de 2008

DIÁRIO DE VIAGEM

Em 1825, quando foi contratado pelo barão von Langsdorff para participar da expedição científica que percorreria o interior do Brasil, Hércules Florence levou consigo um caderno de bolso, com capa de papelão e lombada de couro, e mais de duzentas páginas em branco. Depois de três anos e meio, ao término da expedição em Belém, o volume com as folhas preenchidas em francês, pela sua letra miúda, tornou-se seu diário de campo. Foi nesse pequeno caderno, que se encontra em arquivo da família Florence, que Hércules narrou, em forma de rápidas notas e registros resumidos, para posterior aproveitamento e desenvolvimento, as observações feitas durante a viagem. Descreveu os acontecimentos, os aspectos gerais das regiões e das paisagens, além dos costumes da população e dos índios. Guardou, também, consigo, cópias de desenhos e aquarelas cujos originais estavam destinados à Rússia. No dia 10 de novembro de 1828, de Belém, em carta para sua mãe, em Mônaco, escreveu que cuidaria pessoalmente da publicação de seu diário e desenhos, pois o governo russo dificilmente o faria. No navio que trouxe os expedicionários de volta ao Rio de Janeiro, em março de 1829, Hércules passou a reescrever a primeira variante de seu diário. No Rio de Janeiro, onde permaneceu durante alguns meses antes de fixar residência em Campinas, deixou com familiares de Adrien Taunay, que também fora desenhista da expedição e morrera afogado nas águas do Guaporé, a primeira parte dessa variante que trazia o relato da saída da expedição até a chegada em Cuiabá. A segunda parte, sobre a trajetória de Cuiabá até o Pará, enviou para a Rússia, no início de 1830. Quarenta e cinco anos mais tarde, Alfredo D´Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, filho de Félix Émile, irmão de Adrien Taunay, ao remexer em velhos papéis, por ocasião de mudança de residência, encontrou por acaso, o precioso manuscrito de Florence composto de oitenta e quatro páginas cuja escrita, embora estivesse se esmaecendo pela ação do tempo, ainda era legível. Trazia como título: " Esboço da viagem do Sr. Langsdorff no interior do Brasil pelo segundo desenhista da comissão cientifica Hércules Florence ". O Visconde de Taunay que havia conhecido pessoalmente Hércules, em 1865, quando estivera no Estado de São Paulo, solicitou sua autorização para a publicação do manuscrito. Quando recebeu a resposta de Hércules, lhe escreveu, em 10 de junho de 1875, do Rio de Janeiro:
" Só hoje é que recebi a sua estimável carta de 27 do mês p. passado, na qual me anuncia ter pronta, há quinze anos, uma relação de sua interessante viagem. O que possuo e está tudo traduzido já por mim... são simples apontamentos muitas vezes; entretanto todas as páginas têm leitura proveitosa e deleitável... Creio que o melhor a fazer é imprimir na revista do Instituto Histórico esta primeira parte traduzida..."

Foi graças às correspondências que manteve com Florence que o Visconde de Taunay, sabendo que a parte pitoresca da longa expedição com mais de trezentos desenhos estava pronta para ser impressa havia quinze anos, conseguiu sua aprovação para publicar a tradução completa da obra no ano de 1875. Tal publicação, servindo como título de admissão, permitiu que Hércules, em 23 de novembro de 1877, fosse aceito como membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Antes disso, Hércules, entre os quarenta e cinco e cinqüenta e quatro anos de idade, acrescentando algumas impressões pessoais, já havia registrado a segunda variante de seu diário no volumoso manuscrito que se encontra, atualmente, no arquivo da família Florence em Campinas. Essa cópia do diário foi publicada no idioma original francês nos anos 1905 e 1907 e mais tarde, em tradução para o português, no ano de 1977.
O diário de viagem escrito por Hércules é historicamente o primeiro relato que trouxe a público os acontecimentos relacionados com a segunda etapa da expedição Langsdorff, pois seu acervo, que esteve perdido durante mais de cem anos, só foi encontrado em 1930 na Rússia.
Essa divulgação pioneira se deveu não apenas ao que Florence escreveu mas também à iniciativa que teve o Visconde de Taunay em publicar sua tradução.

NA TRIBO


Fui visitar meu avô
em seu diário de viagem.
Ele estava na tribo Apiaká
onde a vida é sem roupa
e sem ansiedade.


Há pesca de manhã,
caça com flecha e tacape.
E nas redes estendidas,
sob o frescor da maloca,
o repouso da tarde.

Há uma brisa suave
com cheiro de peixe seco
pilado como farinha
pelas índias na gamela.

À noite, antes do sono,
há uma fogueira que arde
iluminando nossas cabeças
e meu avô murmurando:
isso que é felicidade!

Fui visitar meu avô
no seu diário de viagem.
Oh, meu Deus! Quanta saudade!

(setembro de 2007)

CIDADÃO MONEGASCO

O pai de Hércules, Arnaud Florence, cirurgião mor do exército, era natural de Toulouse. Casou-se em Mônaco com a monegasca Augustine Vignalis e, logo depois, por motivo de trabalho, foi morar em Nice onde Hércules nasceu em fevereiro de 1804. Poucos meses depois do nascimento de Hércules, sua família se mudou para uma cidade próxima, Vintimille, onde residiu durante três anos. Mais tarde, Hércules, aos quarenta e cinco anos de idade, escreveu:
" É em Vintimille que experimentei as primeiras sensações da vida; ali permaneci apenas pelo espaço de três anos e ainda me recordo da casa em que habitávamos, o jardim, fechado por um muro e uma porta dando para o mar; o ruído das vagas e os passeios da família ao luar... Desde já me agrada falar do mar, pois de minha vida somente tenho saudade do tempo que passei no mar e nos rios da América. Lembro-me finalmente, da rua de nossa casa, onde se reuniam, aos domingos, povo e magistrados para assistirem ao jogo da péla (jeu de paume) ".
Em seguida, a família Florence retornou a Mônaco onde o pai de Hércules faleceu quando ele tinha apenas três anos e sete meses de idade. Depois de ler Robinson Crusoé, na adolescência, Hércules se interessou pelas viagens marítimas e, aos dezesseis anos, obteve autorização de sua mãe para viajar de navio até Antuérpia de onde retornou a pé para Mônaco. Para esta viagem Hércules levou consigo seu passaporte expedido pelo Principado de Mônaco. Ingressou, três anos mais tarde, na Marinha Real Francesa, depois de renovar seu passaporte monegasco. Foi designado para o navio de guerra " Marie Thérèse " que, após alguns meses, partiu em viagem de circunavegação, sob o comando do capitão Claude du Camp de Rosamel. Em Abril de 1824, quarenta e cinco dias após sua partida, o navio aportou no Rio de Janeiro onde Hércules desembarcou e resolveu permanecer, se separando da tripulação. Trazia consigo o passaporte expedido pelo Principado de Mônaco, datado de 31 de Julho de 1823. Em maio de 1824 em carta para sua mãe, escreveu:
" A vantagem de estar longe de vocês, apesar de não fazer muito tempo que viajei, me parece, acima de tudo, foi adquirir certa experiência para conhecer e amar os verdadeiros bens da vida, que consistem na simplicidade, no trabalho e na tranqüilidade da imaginação. Esta imaginação que cega, consegue me determinar a me separar de vocês todos. Você sabe como é bom me educar através do trabalho, tendo eu uma avidez de conhecimentos... desejo progredir no estudo da ciência e desejo conhecer o mundo, visto que é pequena nossa passagem insciente sobre a terra, só desejo me instruir ".
No Brasil, entre os anos de 1825 e 1829, participou da Expedição Langsdorff e, quando se casou, em Janeiro de 1830, com a filha de Álvares Machado, fixou residência em Campinas que, naquela época tinha o nome de Vila de São Carlos. E, no mesmo ano de seu casamento, publicou, como resultado de suas observações durante a viagem com Langsdorff, um estudo sobre o som produzido pelos animais que denominou Zoofonia ( Zoophonie ). Foi em Campinas que idealizou a poligrafia e fez, entre os anos de 1832 e 1836, experiências com fotografia da qual é reconhecido, atualmente, como um dos pioneiros. Vivia em Campinas quando, aos quarenta e três anos de idade, escreveu:
" Por muito tempo lastimei haver contraído laços que me fixaram vinte e quatro anos longe desse mar; contradição de meu espírito, que me fazia sonhar com vastos oceanos a percorrer e praias desertas, ou habitadas por selvagens, a visitar, e que, mais tarde, tornado habitante do Brasil, me fazia ter saudades do Mediterrâneo, de seus portos próximos uns dos outros, de suas ilhas, de seus pequenos mares e, sobretudo, dos habitantes de suas praias. O oceano Atlântico só se me afigura hoje triste solidão, e os quadros de Raynal, esse livro deslumbrante que inflamava minha imaginação, mudaram o seu prestígio ... Avista-se de Mônaco a Ilha da Córsega, mas somente de manhã e no fim do dia quando o tempo é sereno. Ficava satisfeito sempre que eu reconhecia de longe esta Ilha montanhosa; sentia que respirava o mesmo ar que respirara Napoleão na sua infância... Hoje habito sob a mesma latitude onde ele morreu e sofro também os tormentos do exílio ".
Depois de quase um quarto de século vivendo no Brasil, Hércules se sentia exilado e com saudades de Mônaco e de seu mar. Via-se como Napoleão, habitando a mesma latitude da Ilha de Santa Helena. A diferença é que Napoleão foi condenado ao exílio, enquanto que Hércules se exilou, espontaneamente, ao buscar satisfazer seu desejo de conhecer o mundo. Em Maio de 1855 retornou a Mônaco revendo sua mãe que estava com oitenta e sete anos de idade. Levou retrato de sua família em Campinas que desenhara e registrou em desenho os familiares que viviam em Mônaco. Enfim, Hércules Florence embora tenha nascido em Nice foi, também, um cidadão monegasco pois, além de sua mãe ser natural de Mônaco, ele tinha passaporte do Principado onde morou durante dezesseis anos. Soma-se a estes fatos o apego que tinha à sua terra o que fez com que, mesmo vivendo há vários anos no Brasil, não deixasse de sentir saudades de Mônaco e do mediterrâneo cujo horizonte, em sua juventude, ele tanto apreciara contemplar.
Referência: ( 1 ) Segundo Bourroul, o livro de Raynal foi publicado em 1770 e no tomo V trata do Brasil e seus governos, de suas minas de ouro e diamantes, etc. Estas descrições aqueciam as imaginações fogosas e sedentas de novidades e de saber.

EU PARTIREI UM DIA

Partirei um dia próximo para alguma ilha deserta onde a natureza será a minha única mestra, aprenderei sua linguagem, a farei cantar, anunciarei sua beleza ao resto do universo.

JE PARTIRAI UN JOUR

Je partirai un jour prochain vers quelque île déserte où la nature sera ma seule maîtresse, j'apprendrai son langage, je la ferai chanter, je rendrai compte de sa beauté au reste de l' universe.
(in l'article De Monaco au Brésil: Hercule Florence, voyager et inventeur oublié, par William Luret, Annales Monegasques nº 30 - 2006, pag. 132)

CARTA PARA CASTRO ALVES

No ano de 1826, quando Hércules ficou hospedado na casa de Álvares Machado, em Porto Feliz, durante os cinco meses que antecederam a partida da Expedição Langsdorff, passou a ser tratado, desde o primeiro dia, como se fizesse parte da família.
A permanência em Porto Feliz foi para Hércules uma época de rara felicidade como ele próprio admitiu em seu diário de viagem.
Naquela ocasião, em determinados momentos, Álvares Machado lhe declamava os versos de grandes poetas portugueses como Camões. A maneira agradável como o futuro sogro recitava os versos lhe transmitiu a arte da poesia e, embora já tivesse lido os melhores poetas franceses, não havia tido antes tal sensação. Foi isso que lhe despertou o amor à poesia.
Hércules nao deixou de ser também um poeta na sua maneira de descrever os fatos em seu relato da viagem fluvial ou em sua sua autobiografia, além de ter escrito um poema sob o título "Ode ao Brasil".
O prazer em ler poesias fez com que apreciasse também os versos de Castro Alves e lhe escreveu uma carta datada de setembro de 1869 conforme o trecho citado abaixo.

"Moro a metade do tempo na roça, e quisera morar sempre, porque aprecio os matos virgens, o ar livre, o nascer e o por do sol.
Descobri em 1829 uma ciência nova que chamei Zoofonia. Fiz algumas publicações em francês a este respeito; mas creio que não deixaram mais vestígios que uma pedra que cai num tanque de água.
Com as belezas da natureza, eu lia os vossos versos, onde acho a mesma verdade que na criação."
(página 107 de Bourroul)